Carlos Ruiz Zafón: Nós recomendamos! (Carla Cristina Ferreira e Renata Lima)

Uma breve biografia: Zafón nasceu em Barcelona em 1964 e em 1993 ganhou o prêmio Ebedé de literatura com seu primeiro romance, “O Príncipe da Névoa” – parte da Trilogia da Névoa, que vendeu mais de 150 mil exemplares na Espanha, mas ainda não chegou ao Brasil. Desde então, publicou quatro romances, sendo que os três primeiros foram dirigidos para um público mais jovem (veremos controvérsias nisso mais adiante). São eles “El Palacio de la Medianoche” e “Las Luces de Semptiembre” – parte da Trilogia da Névoa e “Marina”. Nos últimos anos transformou-se numa das maiores revelações literárias dos últimos tempos com “A Sombra do Vento”, que foi traduzido em mais de 30 idiomas e publicado em cerca de 45 países, e foi finalista dos prêmios literários espanhóis Fernando Lara 2001 e Llibreter 2002 já tendo vendido 10 milhões de exemplares no mundo. Após “A Sombra do Vento”, Zafón lançou “O Jogo do Anjo”, escrito em 2008, que teve mais de um milhão de exemplares vendidos na Espanha. Seu romance mais recente é “O Prisioneiro do Céu” que será publicado pela Suma das Letras.

Vamos às resenhas:

Nossa avaliação - 9.0

"A Sombra do Vento" não deveria ser considerado romance porque pode dar a ideia errada de que romance é aquela história de amor entre um homem e uma mulher cheia de obstáculos para o final feliz. Então, consideramos o livro como suspense. O livro mistura mistério, aventura e romance histórico. No tema principal, que diríamos que é um tema recorrente dos livros do Zafón, há um mistério que se desenrola a partir do momento em que Daniel Sempere é apresentado ao Cemitério dos Livros Esquecidos, onde ele encontra um exemplar de "A Sombra do Vento" de Julián Carax. Fascinado com a obra, Daniel quer saber mais sobre Carax e seus livros, mas descobre que alguém queimou todos os livros do autor e ele está de posse do último e único exemplar.
Cometo a audácia de comparar Zafón a Anne Rice no começo das Crônicas Vampirescas, com personagens tão bem construídos e verossímeis que nada parece ser superficial, tudo é plausível, tudo é original.

Nossa avaliação - 8.5

“Marina”: Sinceramente, não entendemos porque esse livro é considerado infanto-juvenil. Pelo tamanho, talvez? Porque a história, as angústias e as paisagens nada têm de infantil. Óscar Drai, de 15 anos, invade um casarão aparentemente abandonado de Barcelona. Lá, ele conhece Marina, a jovem de olhos cinzentos que o leva a um cemitério, onde uma mulher coberta por um manto negro visita uma sepultura sem nome, sempre na mesma data e hora. A partir daí, os dois desbravam o universo misterioso da mulher do cemitério e da borboleta negra, um símbolo cheio de significado. A partir daí, Óscar não vê a hora de acordar de partir para o casarão todos os dias para mais explorações e mais mistérios para desvendar.

Nossa avaliação - 9.0

 “O Jogo do Anjo” (somente por Carla Cristina*): Se fosse colocar uma ordem para ler os livros de Zafón (não que precise) este seria o primeiro. Envolvente, com um ar sombrio e cheio de mistério (marca registrada em todos os livros do Zafón) onde conhecemos pela primeira vez o Cemitério dos Livros Esquecidos e a Livraria Sempere e Filhos. Neste exemplar Zafón conta a estória de David que sonha em ser um grande escritor e recebe a proposta de realizá-lo de um estranho que oferece uma fortuna para escrever um livro que irá mudar a humanidade. A atmosfera criada por Zafón é obscura, mas ao mesmo tempo fascinante. Intrigas, assassinatos e muitos calafrios... Será que valerá vender sua alma para obter esse sucesso?
* Renata ainda não leu "O Jogo do Anjo".

Nossa avaliação - 7.0

“O Príncipe da Névoa” ou “O Príncipe da Neblina” ainda não foi lançado no Brasil e nós lemos graças ao pdf liberado pelos nossos amigos portugueses. O primeiro livro da Trilogia da Névoa conta a história de três irmãos (Max, Alicia e Irina) recém chegados a Casa dos Carver, onde anteriormente uma família foi marcada pela tragédia do afogamento do filho pequeno Jacob. No terreno da casa, há o sinistro Jardim das Estátuas, um lugar quase sempre coberto de neblina que povoa os sonhos de Max. Os irmãos conhecem Roland, um rapaz local, que mora com o avô adotivo, o faroleiro da ilha. A partir daí, a história vai ficando cada vez mais envolvente, principalmente quando o Príncipe é introduzido como um misterioso personagem que concede um desejo a pessoa. Mas nada é de graça nessa vida, não é mesmo?

"Marina” e o “Príncipe da Névoa” são, sem sombra de dúvida, os livros mais focados na amizade sincera, sem interesse de receber nada em troca, mas ainda sim possuem uma atmosfera sinistra que envolve ambas as narrativas, enquanto que “O Jogo do Anjo” e “A Sombra do Vento” possuem um toque de fatalidade no ar, onde o tempo todo o leitor transita entre a angústia e o sofrimento das personagens. A ideia de amizade, companheirismo não atrelada a um relacionamento amoroso tinha se perdido um pouco até ser resgatada por Harry Potter (concordo), mas Zafón potencializa essas amizades amizades através de personagens muito bem construídos, uma história sólida, ambientes sinistros, tentações bizarras e acima de tudo uma narrativa que não cansa. 

É importante notar que todas as suas histórias estão profundamente ligadas à história de Barcelona, fazendo da cidade uma personagem coadjuvante, mas essencial, pois ao desbravar, junto com as personagens, cada rua, viela ou casarão somos transportados de corpo e alma para dentro desta realidade. Da mesma forma que somos tragados pelas suas capas que ilustram perfeitamente o cerne de seus livros: uma paisagem etérea, lúgubre e ainda assim sólida o bastante para nos envolver a ponto de não conseguirmos tirar os olhos da página até chegarmos ao final do livro.

Estamos ansiosas para ler “O Prisioneiro do Céu” que a Suma das Letras promete publicar ainda esse ano, mas ainda sem data prevista.