quarta-feira, 28 de março de 2012

Viva o Gordo (Carla Cristina Ferreira)


Conhecidíssimo pelo bordão “beijo do gordo”, Jô Soares é referência quando o assunto é gargalhadas, tanto que em 1981 ele fez sucesso com o humorístico VIVA O GORDO e até hoje continua fazendo com o seu talkshow PROGRAMA DO JÔ. Possuindo um talento versátil, Jô também é conhecido por suas várias facetas culturais como artista plástico, dramaturgo, músico, e escritor. E como nosso assunto é livro, vamos destrinchar aqui um pouco do seu trabalho.

Nossa avaliação - 8.0
Seu primeiro livro foi “O astronauta sem limite”, publicado em 1985 pela LP&M; em 1994 deu-se início a sua parceria com a Companhia das Letras, publicando “A copa que ninguém viu e que não queremos lembrar”. Mas foi no ano seguinte que o sucesso chegou com o lançamento de ”O Xangô de Baker Street”.

A trama se passa no Rio de Janeiro imperial de 1886, quando ocorre o desaparecimento de um violino Stradivarius pertencente à baronesa Maria Luiza, suposta amante do imperador D. Pedro II, e que recebeu deste o famoso mimo de presente. Inconformado com o sumiço do presente, o imperador convida o famoso detetive Sherlock Holmes para solucionar o mistério. Ao mesmo tempo, o assassinato de uma prostituta choca a cidade, colocando o delegado Melo Pimenta na cola desse criminoso. Pimenta acaba solicitando a ajuda de Holmes ao descobrir junto aos pelos púbicos da vítima uma corda do violino.

Durante a investigação, nasce a expressão serial killer, inventa-se a nossa famosa caipirinha e encontra-se celebridades da época como Chiquinha Gonzaga. As melhores cenas, sem dúvida, são a ida de Watson ao barbeiro e a visita da dupla a um terreiro de umbanda. Ah! Sem contar que Holmes fala português; de Portugal, é claro! O livro é ótimo e é impossível não rir com as peripécias dessa dupla dinâmica em terras tupiniquins.

“Xangô” acabou transportado para as telas dos cinemas em 2001, tendo o ator português Joaquim de Almeida no papel de Sherlock Holmes e Marco Nanini como o delegado Melo Pimenta. Jô Soares não aguentou e acabou fazendo uma pequena participação como um desembargador.

O sucesso se repete em 1998 com o lançamento de “O Homem que Matou Getúlio Vargas”. Um romance a la Forrest Gump, onde o protagonista Dimitri é um atrapalhado assassino profissional, que possui dois dedos indicadores em cada mão (já deu pra notar porque ele é atrapalhado, né?). A história começa com o nascimento de Dimitri na Bósnia em 1897 (filho de sérvio com uma brasileira) e que criado como de esquerda (o pai cortou seu testículo direito para não correr o risco do filho de bandear para o outro lado).

Nossa avaliação - 9.0
Sendo anarquista doente, aos 16 anos se junta ao grupo terrorista Mão Negra para aprender a manusear armas, espadas, venenos e explosivos e logo recebe sua primeira missão: matar Francisco Ferdinando; mas infelizmente se atrapalha e um ex-colega acaba matando o arquiduque, desencadeando a I Guerra Mundial. Daí em diante, Dimitri encontra-se com várias figuras históricas como Mata Hari (no famoso Expresso Oriente), Al Capone (se juntado à sua quadrilha), Franklin Roosevelt (tentando assassiná-lo); além de Marie Curi, Graciliano Ramos, Jorge Amado e Fernando Pessoa (em uma sessão esotérica), encerrando sua participação no suicídio de Getúlio em 1954.

Super bem escrito e com um tremendo embasamento histórico (como todos os livros do Jô), este para mim é o melhor de todos. Simplesmente é de chorar de rir. Houve boatos na época do lançamento do filme “Xangô” que “O Homem que Matou Getúlio Vargas” também seria roteirizado, mas ao que parece o projeto não saiu do papel.

Nossa avaliação - 6.0
Depois de sete anos de silêncio literário, Jô Soares publica em 2005 “Assassinatos na Academia Brasileira de Letras”, cujo título já diz quase tudo: um serial killer mata os imortais. Estamos no Rio de Janeiro, em 1924, e o detetive Machado Machado (ninguém percebe aqui uma homenagem à Machado de Assis) fica encarregado de desvendar o mistério dos “crimes do penacho” juntamente com o médico-legista Penna-Monteiro.

Mais uma vez encontramos algumas figuras históricas, mergulhamos de cabeça nos anos 20 e percebemos que a compra de cargos e subornos são práticas de muito tempo atrás: tudo para vestir o fardão e ter o nome entre os imortais. Percebemos também que nesta trama o humor fica um pouco de lado, dando lugar às cenas sexuais do nosso assassino, descritas com bastante detalhe. A graça de descobrir quem é o vilão da história foi-se; aqui fica fácil descobrir quem é o serial killer e quais as suas razões para cometer tais atos. Achei muito mais difícil descobrir o assassino do “Xangô”; na verdade só fui saber no final! No geral, não achei esse livro lá muito empolgante.

Nossa avaliação - 6.0
No ano passado, Jô Soares lançou “As Esganadas”. Ambientado em 1938 o livro de cara revela quem é o assassino e ao longo da trama vamos descobrindo suas razões para cometer tais crimes. As vítimas são todas mulheres gordas (sem preconceito, viu, gente?) que morrem asfixiadas ao ingerir guloseimas tipicamente portuguesas, enquanto, mais uma vez, o serial killer experimenta um êxtase durante os atos sexuais perpetrados em suas vítimas.

“As Esganadas” foi uma decepção para mim. A história em nada me atraiu a não ser o fato que eu visualizava o ex-detetive português Tobias Esteves com a cara do Jô Soares (principalmente no final). O livro se concentra mais em mostrar acontecimentos históricos da época do que focalizar na história em si, como uma cena de corrida de carros ao antigo autódromo da Gávea e a narração de um jogo de futebol da seleção brasileira.

Por favor, não pensem que existe um problema com estes dois livros do Jô. Acredito que o problema seja particularmente meu, pois eu esperava encontrar livros completamente diferentes e com o humor característico de “O Xangô de Baker Street” e “O Homem que Matou Getúlio Vargas”. Talvez eu precise dar uma nova chance à eles; talvez com uma cabeça mais aberta, eu consiga apreciar o tipo de leitura que Jô está nos oferecendo.

13 comentários:

  1. Como sempre, nosso site está interessantíssimo e os textos muito bons. Parabéns mais uma vez...

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    1. Obrigada, Nine!! Ficamos felizes em saber que vc está acompanhando!! Bjs!

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  2. Adoro o "Xangô", não li "Assassinato", gostei de "As Esganadas", mas deixou a desejar mesmo.
    Para mim o melhor livro do Jô é "O Homem que matou Getúlio Vargas". É diversão garantida do princípio ao fim.

    Adorei o post, Carlinha.

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    1. É realmente questão de gosto, Rê. Eu não gostei mesmo de "As Esganadas"; esperava outra coisa... sei lá!

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  3. Já li e assisti O XANGÔ e HDUAFDGAD medaaaaaaaa!
    Não sou fã do Jô, acho que o EGO o engoliu há tempos, mas sem dúvida ele se enfiou de cabeça na cultura para aparentar ser quem é. E é um grande artista sim.

    Beijo meninas, ótimo post (mas adoreiiiiiiiiiiiiiiiii o do crepúsculo ainda mais!)

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    1. Obrigada!!! O do Crepúsculo precisou de muita inspiração em conjunto kkkk. Bjs!!!

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    2. Aline (do Ler, Ver e Imaginar),
      Não sou fã do personagem Jô Soares, mas do escritor eu gosto sim. Acho que ele faz um ótimo trabalho de pesquisa histórica pra embasar os livros, mas nesse último livro particularmente, achei que ele se perdeu na História e na conexão dos personagens.
      Crepúsculo foi o post que mais gostei de fazer até agora. Tb adorei o do Zafón. Por coincidência foram os posts que fizemos juntas (Carlinha e eu).
      Bjocas.

      Todos os livros dele têm personagens portugueses, Carlinha? Inclusive "O Assassinato" que eu não li?

      Bjs

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    3. Não, acho que "Assassinato" é o único que não tem, pelo menos não como personagem de peso. Bjs.

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  4. Eu lembro que quando li o "xango" foi sem parar, acho que é o melhor livro do Jô; "O homem que matou..." confesso que achei muito chato; "Assassinato fica muito óbvio que é o assassino e "As esganadas" achei o mais bobinho, agora adoro o trabalho de pesquisa que ele faz, acho que o foco das histórias são sempre as paisagens,o Rio antigo que é fascinante, os nomes das ruas, as personagens reais embutidas nas tramas, e as tramas acabam ficando em segundo plano.

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    1. Oi Arthur! Concordo com você em gênero, número e grau! Ele é O cara quando se trata em pesquisar a fundo o assunto. Agora que li seu comentário, percebi que não tinha notado que o Rio de Janeiro em si acaba sendo o "personagem" central das tramas, assim como o "Cortiço" de Aluísio de Azevedo.
      Ótima observação!!! Bjs!

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  5. Posso abrir uma "enquete" aqui? O que vcs acham das capas dos livros?

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  6. Claro... vc manda, kkkk. Eu gostei muito das capas do "Homem que matou" e das "Esganadas". A do "Xangô" é muito óbvia, enquanto que a de "Assassinatos" é bem sem gracinha, mesmo para quem sabe que a história gira em torno dos fardões. A minha preferida? "As Esganadas".

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    1. Que alívio, achei que só eu odiava a capa de "Xangô" (realmente óbvia demais). De todas eu tb prefiro de "As esganadas", "Assassinatos" é a pior de todas!!! Gosto dois seis dedos da capa do Getúlio! kkkk

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