quinta-feira, 5 de abril de 2012

Bernard Cornwell, livros para macho (Carla Cristina Ferreira)


Para os amantes de romance histórico, apresento-lhes Bernard Cornwell. Especialista no assunto, principalmente quando se trata de História Britânica, e apaixonado por História em geral, Cornwell já refletiu sua paixão nas páginas de mais de 40 livros publicados. Ele é conhecido pelo sucesso de “As Crônicas de Artur”, e pelas sagas “A Busca do Graal”, “As Crônicas Saxônicas” e “As Aventuras de Sharpe”. Sua marca registrada? Todos os seus livros retratam com realismo e detalhes cenas de guerras medievais e sangrentas, atraindo particularmente o público masculino, que não está nem um pouco interessado em livros água-com-açúcar, mas sim em testosterona, libido e vingança.

O autor possui uma obra tão extensa que, como leitora aficionada e fã, li quase todos os livros e isso significa que tenho muita coisa para falar. Mas como já dizia Jack, vamos por partes. Comecemos então com “As Crônicas de Artur” que obviamente fala do famoso rei Artur, Camelot, Merlin e Excalibur, mas sob um ponto de vista diferente... Digamos, mais pé no chão. Dividido em três partes, narra em primeira pessoa a história que todos conhecemos sob o olhar de Derfel, um velho monge que no auge de sua juventude acompanhou de perto o desenrolar dessa história.

O Rei do Inverno
Nossa avaliação - 8.5
No primeiro livro, “O Rei do Inverno”, encontramos uma terra abandonada pelos romanos e agora ameaçada por um novo inimigo, os saxões, e divida por senhores feudais ambiciosos. O Grande Rei da ilha da Britânia, Uther Pandragon, está muito doente e conta com o apoio de seus filhos bastardos Morgana e Artur para assegurar o direito do seu neto Mordred, ainda um bebê, de reinar em seu lugar. O que não será fácil.

Estamos em momento da História onde os deuses antigos e o deus cristão guerreiam paralelamente pela fé de um povo sofredor. É nesse contexto em que vive Merlin, um druida que acredita no poder dos antigos deuses e não é visto há vários anos; alguns acreditam que esteja morto.

As descrições feitas por Cornwell dos locais, das condições de vida e dos costumes da época são bem realistas e conseguem transportar o leitor para dentro das páginas. Alguns podem achar que a história se arrasta no primeiro livro, mas é só impressão; é preciso dar um pouco de tempo para a história engrenar.

A melhor cena, na minha opinião, é quando Nimue, amiga de Derfel e aprendiz de Merlin, afugenta seus inimigos coberta de sangue e com um morcego vivo emaranhado em seus cabelos. Bizarro, mas eficaz!

O Inimigo de Deus
Nossa avaliação - 9.0
Na segunda parte, “O Inimigo de Deus”, Artur consegue unificar os reinos da Britânia sob o juramento de servirem a Mordred quando este estiver em idade de assumir o trono. Entretanto, a paz está ameaçada mais uma vez pela invasão da horda saxã e pelo conflito entre pagãos e cristãos que se intensifica. Mas Artur só pensa em expulsar os saxões não importa com a ajuda de qual deus. Assim, Merlin, sai à caça de um caldeirão mágico que, juntamente com a espada sagrada Excalibur, fará parte de um feitiço que irá trazer os antigos deuses de volta, expulsar os saxões para além-mar e apagar o cristianismo da face da terra. Será?

Cornwell fascina pelo fato de narrar as lendas que conhecemos sem o faz-de-conta e o romantismo já embutido nelas, focando no lado realista da história. E é dessa forma que ele nos mostra um Lancelot arrogante, egoísta e acima de tudo covarde; o oposto do herói romântico e íntegro que imaginamos. Possivelmente a verdade é que este modelo de cavaleiro não existiu. Da mesma forma é Guinevere: esqueça aquela mulher atormentada pela ideia de trair o marido por um amor maior. Aqui além de trair Artur com seu melhor amigo, ela é uma vaca interesseira e manipuladora.

Excalibur
Nossa avaliação - 9.5
Em “Excalibur”, conhecemos a razão para Derfel, um guerreiro notável e pagão, ter se tornado um monge obediente, servindo ao seu “inimigo”. Conhecemos também um lado sagaz de Guinevere e os motivos para o desaparecimento de Merlin e Artur. O final é simplesmente espetacular. A forma como Cornwell consegue transformar o mito arturiano em uma realidade possivelmente plausível é de deixar qualquer um de boca aberta. Chocante!

Após o sucesso das “Crônicas de Artur”, onde muitos devem ter se perguntado “cadê o Santo Graal?”, foi dado início a uma nova trilogia chamada “A Busca do Graal”. Nesta nova saga dividida em “O Arqueiro”, “O Andarilho” e “O Herege”, estamos no meio da Guerra dos Cem Anos e conhecemos Thomas de Hookton, camponês, filho bastardo de um padre, que tem o sonho de se juntar ao exército inglês e se tornar um arqueiro.

Inesperadamente uma figura vestida de preto chamada Arlequim invade a aldeia de Thomas, matando seu pai e roubando uma relíquia inestimável: a famosa lança de São Jorge (santo protetor dos soldados ingleses; seu grito de guerra é “São Jorge”). Daí em diante Thomas procura realizar seu sonho e vingar a morte do pai, custe o que custar. Tentando alcançar seu objetivo, descobre que o pai era o guardião de um grande segredo: o graal, e que outras pessoas estão de olho nessa relíquia.

Os títulos dos livros deixam bem claro o andamento de cada um deles, e mais uma vez Cornwell retrata os costumes da época, as batalhas, o derramamento de sangue, as prostitutas e o clero com brilhantismo. Acho que o mais interessante é como o cristianismo é retratado em seus livros, em alguns como algo tão banal e sem sentido e em outros como algo realmente sagrado e cheio de poder e mistério.

   
“A Busca do Graal” não é a minha saga favorita, mas ainda assim vale a pena ler. Mas se você está interessado em algo mais brutal e com a mesma carnificina das “Crônicas de Artur” vale a pena ler “As Crônicas Saxônicas” (dividido em 6 livros, o último ainda não foi lançado no Brasil) que fala sobre Alfredo, o Grande.

Já se você gosta de batalhas históricas com baionetas, carabinas, fuzis e patentes, vale a pena conferir “As Aventuras de Sharpe”. Inicialmente, no Brasil foram publicados 8 dos 24 livros lançados na Inglaterra e que fizeram muito sucesso ao serem transportados para a telinha em uma série estrelada por nada mais, nada menos do que Sean “Boromir” Bean no papel de Richard Sharpe. Infelizmente esta série não chegou para nós tupiniquins, mas para quem tem o inglês na ponta de língua, é possível baixar e aproveitar cada uma dessas aventuras.

Como ainda não terminei de ler “As Crônicas Saxônicas” nem “As Aventuras de Sharpe” vou deixar estes livros para um próximo post, juntamente com as obras avulsas “Stonehenge”, “Azincourt”, “O Condenado” e “O Forte”.

Eu não sei vocês, mas eu ADORO as capas de todos os livros. O que vocês acham?

No Brasil os livros de Bernard Cornwell são publicados pela Record.

10 comentários:

  1. Nossa, só minha amiguinha Carla para ler esses livros de História. Mas a resenha ficou excelente. Aguardo ansiosa a próxima.
    Bjnhs Rê e Carlinha

    ResponderExcluir
  2. Desde que fiz a 1a releitura do livro Rei Artur do Allan Massie para a Ediouro fiquei apaixonada pelo mito. Acho legal que o Cornwell pega um mito e desconstrói, porque a gente bem sabe que nessa época nem tudo eram flores. O misticismo, o medo, a pobreza, a mesquinharia dos ricos, tudo parece bem retratado no pouco que eu li. Assim que eu retomar a leitura, volto aqui pra dar a minha opinião.
    Só li os primeiros capítulos porque estou dando preferência aos livros pra trocar. Agora estou lendo "Ao cair da noite" do Stephen King e "Alta Tensão" do Harlan Coben.

    Beijocas, meninas.

    ResponderExcluir
  3. Ah, e eu gostei muito das capas, menos a de Herege, que não me diz nada sobre heresia...

    ResponderExcluir
  4. Realmente a capa do livro O Herege não diz muita coisa, mas o nome está super relacionado com a história!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não duvido disso... mas poderiam ter deito uma capinha melhor, né? As outras são bem autoexplicativas.

      Excluir
  5. Eu tinha um professor de história que AMAVA o Cornwell, e como eu quase sempre era a única que lia alguma coisa, ele ficava falando para mim sobre como esse autor era incrível. Impossível não ficar empolgada com ele falando assim, mas eu comecei a ler O rei do inverno e sei lá, não consegui gostar muito...acho que me decepcionei um pouco quando vi que não era o Arthur quem narrava. Mas darei outra chance. Se bem que depois desse texto fiquei com mais vontade de ler A trilogia da Busca do Graal...
    Eu me impressiono com esse cara, ele parece ter escrito um milhão de livros e ainda não parou.
    Beijo!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Nossa, é verdade, ele escreveu zilhões de livros! 24 livros só de Sharpe, é muita coisa pra uma vida inteira já!

      Eu tb quero ler A busca do Graal...

      Excluir
  6. É realmente questão de gosto... adorei "Crônicas de Artur e as "Crônicas Saxônicas". "As Aventuras de Sharpe" os três primeiros livros são os melhores... depois vai ficando tudo muito parecido... ele vai seguindo meio q uma fórmula, mas todos são bons.

    ResponderExcluir
  7. O que eu acho mais especial em Crônicas de Artur, fora a perfeição na descrição de cenários e lutas, é como ele deixa a magia como possibilidade ou não na maior parte das vezes; e só da metade pro final do último livro que a balança pende pra acharmos que a magia é real e nada mais, com aquelas magias da Nimue.

    Gostei da resenha. Devo publicar uma coisa Excalibur qualquer dia desses no meu blog, se quiser ir vê-la :)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É Bruno, em alguns momentos fica difícil saber se acreditamos na magia ou não, não apenas com relação à Nimue, mas tb à Morgana.
      Deixa o link do seu blog que depois a gente dá um pulinho lá pra conferir sua resenha. ;-)

      Excluir