Qual o seu pecado favorito? (Carla Cristina Ferreira)

Em 1999 a Editora Objetiva lançou a coleção Plenos Pecados, composta por sete livros, cada um escrito por um autor de renome e focando um pecado capital. O objetivo da coleção é levar o leitor a refletir de forma mais descontraída, sem medo ou vergonha de ser julgado pelo pecado que mais o fascina.

Infelizmente não tive a oportunidade de ler os sete volumes, mas tive a boa sorte de ler “A Casa dos Budas Ditosos”, escrito por João Ubaldo Ribeiro (com base no pecado da luxúria) e “O Clube dos Anjos”, escrito por Luis Fernando Veríssimo (com base no pecado da gula).

Comecei bem né? Tem pecado melhor do que a gula e a luxúria? Talvez a preguiça, mas esse eu ainda vou ler e comento depois aqui.

Nossa Avaliação - 9.0

“A Casa dos Budas Ditosos” tem um começo interessante: ao ser divulgado que Ubaldo ia escrever um livro sobre o pecado da carne, um presente misterioso foi deixado à sua porta - um manuscrito datilografado que conta a história CLB, uma senhora de 68 anos nascida na Bahia e residente no Rio de Janeiro que desfrutou das infinitas possibilidades do sexo.

A dúvida surge: seriam as memórias desta senhora devassa e libertina um relato verídico? Ou tudo não  passa de uma brincadeira do autor? A minha opinião? Tudo invencionice do autor, que acertou em cheio ao descobrir uma forma de colocar a “culpa” do pecado em um ser imaginário sem ter que dar satisfação das cenas picantes que povoam a trama.

O fato é que além de muito bem escrito e divertido, ninguém consegue ficar indiferente à franqueza rara deste relato, a esta narradora sem papas na língua. Um livro que vai além da sacanagem nua e crua, que fala da hipocrisia da nossa sociedade e de um moralismo ultrapassado. Um livro que nos faz pensar ou repensar nossos conceitos sobre a liberdade sexual.

Nossa Avaliação - 8.0

Já em “O Clube dos Anjos” temos dez amigos que mensalmente se reúnem para saborear os prazeres da
mesa, bebendo e comendo bem; uma tradição que já dura 21 anos. Até que Daniel, nosso narrador, conhece Lucídio – um rapaz misterioso, mas excelente cozinheiro – e resolve elaborar um jantar especial para os membros do ‘Clube do Picadinho’.

Acontece que o cozinheiro é tão bom, tão bom que consegue ‘adivinhar’ o prato predileto de Ramos, que, ao final do jantar, se depara com a última porção da lauta refeição; porção esta que dá para apenas uma pessoa. Ramos não perde tempo e cai de boca na botija, morrendo em seguida. Daí em diante, a cada reunião um membro é ‘eliminado’ após consumir a última porção do seu prato favorito, mesmo sabendo que esta será a sua última refeição.

O livro é divertido, como todo livro do Veríssimo, mas às vezes cai na monotonia. Um livro bom, mas não excepcional, pois não nos leva a refletir. No máximo comparamos o prazer em comer com um êxtase espiritual.

Nossa Avaliação - 5.0

Ah! Esqueci de comentar que também li “O Mal Secreto”, escrito por Zuenir Ventura, com base na inveja. Mas confesso que não gostei do livro. Primeiro por que não chega a ser o romance como os anteriores, mas sim uma espécie de relato sem bem um começo, meio e fim. No geral, bem chatinho.

Basicamente, o livro tenta focar na inveja como sendo o único pecado que todo brasileiro comete, mas que nunca que assumir. Ninguém quer dizer que é invejoso e quando assume, vem com aquela lábia de ‘inveja boa’ que para Zuenir não existe esse negócio de ‘inveja boa ou má’.

Seu relato se restringe à entrevistas com pais e mães de santo, padres e líderes espirituais em geral. O único relato interessante é o do próprio autor que se vê, talvez pela primeira vez na vida, sentindo inveja de alguém.

E aí? Qual o seu pecado favorito?