quarta-feira, 9 de julho de 2014

Livros que me fazem pensar (Renata Lima)


Antes de começar a falar desse livro, eu gostaria de falar da minha relação com os livros do Michel Laub e para isso vou fazer uma comparação que pode até parecer confusa e sem propósito.

Como vocês sabem, eu leio quase todos os gêneros literários. Prefiro suspense, terror, policial, mas não dispenso os infanto-juvenis, os romances de banca, um YA bem lacrimejante. Adoro livros históricos, curto biografia, de vez em quanto leio uma HQ, mas, talvez por ter sido obrigada a ler muita coisa na faculdade que me impossibilitava uma interpretação minha - depois de todos os estudos críticos das obras, discordar passa a ser sacrilégio - não tenho lido muitos livros clássicos. 

Com essa parte esclarecida, tenho que dizer que de todos os livros que eu leio, pouco me fazem refletir por muito tempo. As leituras obviamente me entretêm, mas quando acaba o livro, consigo simplesmente fechá-lo e partir para outro sem muito pesar, sem muita reflexão, não fico apegada à história, aos personagens principais, aos dramas e para mim esse é todo o diferencial dos livros do Michel Laub!

Nossa Avaliação - 9.0
O primeiro livro que eu li do autor foi "A Maçã Envenenada", que conta a história de um rapaz que reflete sobre a própria vida fazendo um paralelo com o suicídio do Kurt Cobain, o show do Nirvana em terras tupiniquins e a vinda de uma sobrevivente do genocídio de Ruanda para o Brasil. E não há como explicar a ligação entre uma coisa e outra, mas posso dizer que o livro é denso, reflexivo, interessante. A minha sensação durante a leitura era que o personagem principal dialogava comigo, me instigava, me fazia sair da minha zona de conforto o tempo todo.

Depois de ler "A Maçã Envenenada", descobri que se tratava de um segundo livro de uma trilogia em que o autor investiga as consequências de eventos traumáticos sobre a vida das pessoas (por esse motivo alguns chamam de Trilogia da Tragédia). Ainda bem que os livros podiam ser lidos separadamente, porque não há qualquer conexão entre eles fora o tema tragédia, mas naquele momento eu não me sentia preparada para mergulhar em outro livro parecido e é por isso que eu só peguei "Diário da Queda" agora, seis meses depois de ter lido "A Maçã Envenenada"! Fiquei sabendo o livro ganhou a Copa da Literatura, um prêmio da internet onde os jurados precisam resenhar o livro para justificar a nota, então não pode ter muita embromação, né?

Nossa Avaliação - 9.5
Seria redundante dizer que mais uma ver Michel Laub me tirou o chão ao narrar a história pelo ponto de vista de um personagem que não é nomeado e que decide, depois de descobrir sobre a doença do pai, contar sua vida trazendo três gerações da família para a história: o avô, sobrevivente do Holocausto e do campo de concentração mais famoso do mundo, Auschwitz, o pai, sempre pautado na experiência do próprio pai e sempre engajado no papel do judeu na sociedade, e o filho, que depois de um acontecimento (um bullying maldoso) passa a questionar seu lugar como judeu, como pessoa, como neto, como filho, como ser-humano. 

A partir dessa narração, as relações são questionadas, o desenvolvimento da personalidade de uma pessoa depende do passado? Até que ponto quem somos hoje pode ser considerado fruto das experiências pelas quais passamos? Os diários de seu avô, basicamente cheio de vocábulos que descrevem as coisas como o avô gostariam que tivessem sido e não como realmente foram, mas sem nunca mencionar Auschwitz, é uma forma de fugir da realidade ou uma forma de superar o passado?

O personagem principal se rebela, muda, acredita que está se reconstruindo ao partir para uma nova escola não-judia, quando decide ajudar o menino que sofreu bullying, quando acredita que a relação do avô com o pai foi uma relação de ausência e, ao mesmo tempo, toda essa rebeldia se vira contra ele e ele é obrigado a rever (pela segunda vez) todos os seus conceitos, tudo que foi construído ao seu redor, a derrubar barreira, a descobrir novos caminhos, a desenvolver uma nova relação com o pai, com a esposa, consigo mesmo. 

Não são raros os momentos em que eu tive que ler e reler a mesma frase várias vezes e pensar no impacto que aquela frase teve em mim e, ao fechar o livro, fiquei com a sensação de que eu tinha passado por uma experiência de perda e de ganho.

Não, esse não é um livro de autoajuda porque nele não há respostas, não há exercícios, não há sim, nem não. Mas  há uma série de questionamento que são levantados e por fim, eu tive vontade de refletir qual foi o tipo de relacionamento que eu desenvolvi com meus avós, com meus pais, que tipo de verdades pré-estabelecidas a gente traz com a gente por conta de um evento, de uma opinião, de um julgamento feito no passado.

E mais que isso, que tipo de relação eu pretendo ter com meus filhos? Como quebrar o círculo vicioso de mágoas e preconceitos em que se desconta em outrem o que um dia já foi descontando em nós mesmos? A vida no fim é realmente um cheque em branco ou é ser colocado em um mundo já com problemas antes mesmo de sabermos disso?

Os direitos do livro já foram vendidos para mais de dez países e para o cinema. O terceiro livro dessa trilogia ainda não saiu e não consta previsão no site do autor!

Se você ficou na dúvida, leia o livro. Ele não vai te dar respostas, mas vai te incitar a fazer as perguntas, o que, na minha opinião, é muito mais interessante.

4 comentários:

  1. Eu não gosto muito de livros com essa premissa. Eu na verdade amo ler justamente pelo fato de que ali, naquela historia inventada, eu me perco, não me preocupo com mais nada, só com a resolução do mistério apresentado.
    Eu ao contrario de vc, quando acabo um livro, mesmo que inicio outro logo em seguida, fico com a historia na mente, penso a respeito por muito tempo, volto nas partes que me chocaram, nas que talvez não tenha intendido muito bem, mas acho que é justamente pelo fato da historia não ter nada a ver comigo, de que aquilo ali é somente uma ficção. Já quando se trata de reflexões profundas e divagações sobre a alma e etc, eu corro léguas.
    sua resenha como sempre, apesar da minha estranha aversão por livros do gênero, me fez ficar interessada nos livros resenhados.
    Bjos.

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  2. Re, acho que temos gostos e posicionamentos parecidos. Eu também sou do tipo que não me apego a livros e personagens. Mergulho na história enquanto estou lendo mas, assim que viro a última página, acabou. Deixo para trás sem pensar duas vezes e já estou pronta para a próxima.
    Confesso que o que despertou minha curiosidade para ler "A Maçã Envenenada" foi o fato de falar sobre o show do Nirvana. Depois, comecei a ler resenhas que me deixaram mais intrigada. A leitura foi intensa e mal vejo a hora de ler os outros dessa trilogia do Laub. Imagino que terei mais uma experiência reflexiva...
    Beijo!

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    1. Ai, Mi, que bom que vc sentiu o mesmo que eu!!!
      Quando acabar de ler, volta aqui pra dizer o que vc achou, tá?
      Beijos enormes!

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  3. Ainda não li nada desse autor, mas fiquei muito interessada após suas resenhas.
    Mais livros para minha lista que não para de crescer e também não diminui.
    Beijos!!!!!!

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