sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

O mundo dos ricos e perfeitos (Renata Lima)


Nossa Avaliação - 8.5
Em um mundo onde nem tudo que parece é, a família Sinclair do livro "Mentirosos" de E. Lockhart se destaca. Todos os anos os Sinclair se reúnem para passar o verão na ilha da família que comporta várias casas divididas entre as filhas do patriarca Harris Sinclair - sim, filhas, ele não teve nenhum filho homem.

Os primos sempre se encontram nesses verões e quando o namorado de uma das tias traz seu sobrinho, Gat, um garoto completamente diferente dos privilegiados Sinclair, os "mentirosos" ficam completos.

Através dos olhos de Cadence, vemos o amadurecer desse pequeno grupo juntamente com manipulação dos pais dos mesmos visando a herança do avô Harris e aos poucos disputando pelas casas da ilha - umas são menores, algumas filhas têm mais filhos e portanto precisariam de mais espaço, mesquinharias desse tipo.

No entanto as crianças parecem um tanto alheias aos problemas dos pais até o fatídico "verão dos quinze", onde um acidente no mar faz com que Cadence perca a memória sobre tudo que aconteceu naquele verão e tenha crises de enxaqueca. Por indicação médica, Cadence não deve voltar à ilha no ano seguinte, mas ela não deixa que sua mãe e seu pai a enrolem por mais um ano e volta para a ilha aos dezessete anos.

Em busca de suas memórias perdidas e magoada com os primos que ignoraram suas mensagens nos últimos anos, Cadence precisa se isolar, ao mesmo tempo em que sua mãe a obriga a fazer as refeições junto com a família na casa principal, onde mora o avô Harris, agora reformada e impessoal, bem diferente de como era antes.

A reviravolta na vida de Cadence é visível e não só nas alterações psicológicas, mas também na aparência. Antes loira, ela pinta os cabelos de preto, antes impetuosa e inquebrável, ela agora se sente fraca, antes saudável, ela agora se sente fraca e doente. 

O livro traz reflexões interessantes sobre o ser e o ter, sobre o que as pessoas esperam das outras, sobre admirar a pessoa pelo poder e pelo dinheiro que ela tem, sobre julgá-la de acordo com a tradição de sua família. Ser um Sinclair por si só já era um sinônimo de status, de pertencimento, de hierarquia social.

Algumas pessoas criticam a forma narrativa da autora, às vezes adicionando metáforas muito cruas e contundentes, mostrando a inteligência e a sagacidade da narradora. E mesmo que Cadence, como narradora, seja limitada, é através dos olhos dela que entendemos, aos poucos, a dinâmica entre os personagens e entre eles e a ilha.

Um livro muito interessante, reflexivo e nada cansativo. Parabéns à editora Seguinte pela publicação!

Recomendo muito!

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